segunda-feira, dezembro 14, 2009

"Do Começo Ao Fim" (de Aluízio Abranches) 2009

Pensei que "Do Começo Ao Fim" fosse um filme corajoso e honesto. O que vi no cinema há pouco é exatamente o oposto disso. Tudo vai bem até a morte da personagem da Júlia Lemmertz. Daí em diante, o filme surta, perde o rumo e sucumbe aos piores clichês e maneirismos do erotismo gay softcore. Muito... muito ruim. Deveria se chamar "Do Começo À Metade", isso sim. E é só. Nada mais a dizer.

sábado, novembro 14, 2009

"(500) Days Of Summer" (de Mark Webb) 2009


"(500) Days Of Summer" é, desde já, um dos filmes mais intrigantes e surpreendentes deste ano.

É uma comédia romântica absolutamente atípica, que subverte todos as convenções do gênero, mostrando de forma (nem sempre) cronológica os 500 dias de um romance que só aconteceu para valer na cabeça de uma das partes envolvidas -- no caso, o arquiteto e dublê de redator de cartões comemorativos Tom Hansen , interpretado por Joseph Gordon-Levitt, ex-ator mirim que todos devem lembrar da antológica série de TV "Third Rock From The Sun".

Seu objeto de desejo é Summer Finn, uma all-american girl encantadora, interpretada por Zooey Deschanel, que esbanja leveza existencial e despreendimento afetivo, mas não consegue esconder seu lado sombrio muito atrapalhado, que é justamente o que faz com que sinta-se atraída pelo jovem arquiteto interrompido.

O romance entre os dois é mostrado de forma leve e fragmentada, em segmentos indicando "Dia 6" ou "Dia 426". Apesar disso, consegue fugir brilhantemente de todas as armadilhas que normalmente tornam roteiros assim esquemáticos e desinteressantes. Ambientado em uma Los Angeles quase irreconecível -- onde o sol raramente aparece, e chove muito --, "(500) Days Of Summer" integra o tom agridoce do romance dos jovens amantes a uma cidade que insiste em não brilhar em momento algum, e mesmo assim não consegue acomodar bem seus personagens.


É um filme delicado, divertido, e em tom menor, que escapa com galhardia do festival de gags contínuas que assola as comédias românticas atuais, na medida em que não está na pauta de preocupações de seus roteiristas usar os truques que aprenderam em séries de TV, onde o desafio é sempre induzir o telespectador a, pelo menos, duas gargalhadas por minuto,

A maior de todas as virtudes de "(500) Days Of Summer" é, sem dúvida, conseguir agradar tanto platéias de "sundancers" quanto platéias comuns, graças a um roteiro engenhoso e agradável e uma direção extremamente inteligente. Tenham certeza que muitas comédias românticas com perfil semelhante a esta devem surgir nos próximos meses, como contraponto -- talvez até como antídoto, devidamente aprovado pela Indústria Cinematográfica -- às grosserias de blockbusters trash recentes como "Hangover" e afins.

"(500) Days Of Summer" é, portanto, um pequeno grande filme que chega na hora certa para colocar um pouco de ordem no galinheiro da outrora "boa e saudável comédia americana", que parecia perdida em algum ponto obscuro do Século 20, e agora está de volta, revigorada, pronta para encarar o Século 21.



Direcão: Marc Webb
Roteiro: Scott Neustadter e Michael H. Weber
Diretor de Fotografia: Eric Steelberg
Edição: Alan Edward Bell
Música: Mychael Danna e Rob Simonsen
Desenho de Produção: Laura Fox
Produção: Jessica Tuchinsky, Mark Waters e Mason Novick
Lançamento: Fox Searchlight Pictures
Duração: 96 minutos.
Elenco: Joseph Gordon-Levitt (Tom), Zooey Deschanel (Summer), Geoffrey Arend (McKenzie), Chloë Grace Moretz (Rachel), Matthew Gray Gubler (Paul), Clark Gregg (Vance), Rachel Boston (Alison) e Minka Kelly (Autumn).

terça-feira, novembro 03, 2009

"Vigaristas - The Brothers Bloom" (de Rian Johnson) 2009



Tudo o que envolve esta adorável comédia é altamente duvidoso. E também encantador.

Penélope, a personagem de Rachel Weisz em "The Brothers Bloom", é a herdeira de uma enorme fortuna que mora sozinha em um castelo em New Jersey (???!!!). Ela possui a estranha habilidade de ler livros sobre assuntos específicos e rapidamente dominá-los por completo. No entanto, vive reclusa em seu castelo, e, sempre que sai de casa, bate sua Lamborghini contra tudo o que vê pela frente, isso quando não se acidenta sozinha. Envolve-se num golpe extremamente arriscado, e percebe pela primeira vez na vida que existe uma diferença gigantesca entre o que está habituada a absorver dos livros e o "Teatro da Vida" da qual finalmente decidiu fazer parte. Sente medo a princípio. Mas vai em frente.

Bloom, o personagem de Adrien Brody, sente-se totalmente irrealizado, apesar de ser um farsante bem sucedido. Acha que passou a vida inteira prisioneiro dos tipos que seu irmão Stephen criou para ele em seus planos para golpes perfeitos. Decide então que não quer mais participar dos golpes do irmão, e foge para Montenegro, para tentar colocar as idéias em ordem e tentar viver uma vida com um roteiro próprio. Acaba deprimido e sem rumo. Descobre que, na verdade, nunca foi exatamente prisioneiro dos tipos criados pelo irmão. Apenas, não teve competência para redigir um roteiro decente para sua vida.

E tem ainda Mark Ruffalo, que faz Stephen, o irmão diabólico e genial de Bloom, um fanfarrão que vive de elaborar roteiros para golpes milionários, e sempre insiste na tese de que "golpe bom é aquele em que todos, inclusive o lesado, levam exatamente o que desejam".

Como se pode perceber, "The Brothers Bloom" é uma alegoria -- joyceana, os nomes dos personagens fazem referência direta a "Ulysses" -- sobre a arte de elaborar uma farsa perfeita, e deixar todo mundo satisfeito, a começar pelas platéias dos cinemas. Extremamente rápido e perigosamente leve, o filme se sustenta na habilidade do roteirista e diretor Rian Johnson em trafegar por diversos gêneros cinematográficos diferentes, sem permitir que assuma qualquer um deles em momento algum. Ele dirige toda a cena em "The Brothers Bloom" como um ilusionista que engata um truque de cartas atrás do outro durante quase duas horas de filme. Tem gente que acha isso cansativo. Eu não. Confesso que adorei cada reviravolta que o filme proporcionou.

"The Brothers Bloom" é frenético e charmoso. A ação segue num ritmo tão acelerado que nem permite que questionemos suas (muitas) imperfeições. Sinal claro da maestria de Reynolds, craque da nova geração, muito influenciado (positivamente) por Wes Anderson, ainda que com apenas um filme realizado anteriormente em seu curriculum. Transparece claramente na tela o quanto os atores se divertiram ao participar das filmagens em locações belíssimas em Praga, São Petersburgo e Montenegro, o que, por si só, já deveria ser uma excelente recomendação.

Mas tem muito, muito mais em "The Brothers Bloom" para ser devidamente descoberto e apreciado. Experimentem.



THE BROTHERS BLOOM

Escrito e Dirigido por Rian Johnson
Diretor de Fotografia: Steven Yedlin
Edição: Gabriel Wrye
Música: Nathan Johnson
Desenho de Produção: Jim Clay
Produzido por Ram Bergman, James D. Stern e Wendy Japhet
Lançamento: Summit-Endgame-Paris Filmes
Duração: 113 minutos
Elenco: Rachel Weisz (Penelope), Adrien Brody (Bloom), Mark Ruffalo (Stephen), Rinko Kikuchi (Bang Bang), Maximilian Schell (Diamond Dog), Robbie Coltrane (Curador) e Ricky Jay (Narrador).

domingo, novembro 01, 2009

"Gran Torino" (de Clint Eastwood) 2008


Clint Eastwood passou a maior parte de sua vida como ator refazendo "Shane", do George Stevens. Seu personagem é sempre o anjo da morte que sai do nada para colocar ordem numa situação em que "enviados do mal" dominam a cena. Ao final de cada uma dessas fábulas moralistas, ele retorna invariavelmente ao nada de onde veio.

É sempre assim. Tanto nos westerns -- "O Estranho Sem Nome", "Josey Wales", "Pale Rider" e "Unforgiven" -- quanto nos policiais da série "Dirty Harry" e agregados.

Em "Gran Torino", que acabo de rever em DVD, Clint Eastwood retoma esse personagem habitual, mas se distancia da ética protestante que pontuou todos os seus trabalhos anteriores, para bater de frente com os dogmas do catolicismo, e então sair em busca de uma cara legitimamente americana para ele.

Curiosamente, enquanto seguiu a cartilha de herói trágico protestante, seus personagens agiram como mortos-vivos do início ao fim de seus filmes, e jamais morreram no final -- até porque talvez já estivessem mortos há muito tempo.

Em "Gran Torino", no entanto, ele começa morto-vivo, aos poucos redescobre a vida, e então opta por morrer de forma absolutamente catártica.

Não vou me surpreender se Clint Eastwood resolver interpretar um padre em um de seus próximos trabalhos.


Dirigido por Clint Eastwood
Escrito por Nick Schenk
Baseado em uma estória de Dave Johannson e Mr. Schenk
Diretor de Fotografia: Tom Stern
Edição: Joel Cox e Gary D. Roach
Música: Kyle Eastwood e Michael Stevens
Desenhista de Produção: James J. Murakami
Produzido por Clint Eastwood, Robert Lorenz e Bill Gerber
Um lançamento Warner Brothers Pictures
Duração: 116 minutos.
Elenco: Clint Eastwood (Walt Kowalski), Bee Vang (Thao Lor), Ahney Her (Sue Lor) e Christopher Carley (Father Janovich)

sábado, outubro 31, 2009

"O Anticristo" (de Lars Von Trier) 2009


O chato de ter visto filmes demais ao longo da vida é que se reconhece um embuste cinematográfico muito facilmente. A embalagem quase sempre denuncia o produto. Se por um acaso isso falhar, nada resiste ao teste dos 10 minutos. E muito cuidado: se a crítica ficar "ultrajada", e mesmo assim aplaudir, o mais provável é que estejamos diante de uma picaretagem artistica de grandes proporções.

Nenhum desses pré-julgamentos costuma falhar. Comigo, pelo menos, sempre funcionaram bem.

"O Anticristo", de Lars Von Trier, tenta se situar entre "O Bebê de Rosemary" de Roman Polanski e "The Shining" de Stanley Kubrick. Mas não consegue. Afunda. É muito ruim. Pretencioso e auto-indulgente ao extremo. Chega a ser constrangedor, de tão cretino que é. Trata-se de um filme extremamente desagradável sobre Satanismo, que alterna imagens com câmera na mão, forjando um "home movie" de terror, com cenas de sonho espetaculares que lembram, ainda que inutilmente, os trabalhos derradeiros de Akira Kurosawa,

Só que a aparente "grandeza' de "O Anticristo" empaca neste ponto, pois Lars Von Trier está para o cinema europeu assim como Oliver Stone está para o americano. É demagogo, maneirista, posa de gênio da raça, mas não possui estofo intelectual para cumprir sequer um décimo do que se propõe a fazer em seus projetos. Está sempre mais preocupado em chocar do que em realizar algo artisticamente relevante. Sua motivação é sempre indesculpavelmente imediatista.

Como definir as performances de Willem Dafoe e Charlotte Gainsbourg? Densas? Envolventes? Na verdade, é tudo tediosamente febril e desmedido. E nada mais além disso. "O Anticristo" não passa de provocação para iletrados. É oco e barulhento. Uma grande empulhação pseudo-filosófica, e um enorme desperdício do talento alheio. Haja paciência para conseguir chegar até o final -- ridículo! -- do filme.

Precisam parar com essa mania de dar dinheiro para Lars Von Trier e David Lynch fazerem filmes, e encaminhá-los logo para um Hospício de Segurança Máxima.

(se bem que -- é sempre bom lembrar -- nenhum dos dois jamais rasgou dinheiro)



O ANTICRISTO (THE ANTICHRIST)
Elenco: Willem Dafoe (ele), Charlotte Gainsbourg (ela) e Storm Acheche Sahlstrom (Nic)
Escrito e dirigido por Lars von Trier
Diretor de Fotografia: Anthony Dod Mantle
Editor: Anders Refn
Música: Handel
Desenhista de Produção: Karl Juliusson
Produzido por Meta Louise Foldager
Lançamento: Califórnia Filmes
Duração: 109 minutos

sexta-feira, outubro 30, 2009

Black and White In Colour renasce das cinzas


Depois de 18 meses de inoperância, BLACK AND WHITE IN COLOUR está de volta, trazendo o melhor da cena cinematográfica nacional e internacional, com análises dos novos filmes que chegam aos cinemas e dos lançamentos em DVD, além de notícias e entrevistas com atores, realizadores e gente de cinema em geral.

Vez ou outra, resgataremos filmes que permanecem inéditos em DVD, ou que caíram no esquecimento do público com o passar dos anos.

Sendo assim, a partir do dia 31 de Outubro, estaremos de volta a todo vapor.

Tenham todos um Bom Halloween e até já.