sexta-feira, setembro 11, 2015

A FAMÍLIA GRISWOLD DE VOLTA ÀS ESTRADAS AMERICANAS EM NOVAS FÉRIAS FRUSTRADAS

por Chico Marques
 para Black & White In Colour


Não dá para negar: "Férias Frustradas" é um clássico da comédia americana dos Anos 80. 

Produzido pela revista National Lampoon, que fazia muito sucesso na época, o filme se aproveitou parcialmente da idéia daquela comédia clássica do trailer de Vincent Minnelli (com Lucille Ball e Desi Arnaz no elenco), misturou com "Easy Rider" e acrescentou um toque do "Papa Léguas", o desenho da Looney Tunes, e o resultado foi sensacional.

Os Griswolds são uma família americana abestalhada comandada por Chevy Chase e Beverly D'Angelo, que, em seu primeiro filme, sai em férias pelas estradas americanas e pega a rota Chicago-Los Angeles para visitar o WalleyWorld, um Parque Temático que está caindo pelas tabelas.

"National lampoon's Vacation" vem arrancando gargalhadas de pelo menos 3 gerações e já rendeu outros dois filmes com o mesmo elenco, que foram sucessos estrondosos de bilheteria e continuam circulando pelos canais de "filmes clássicos" na TV por assinatura.


Pois bem: 30 anos se passaram desde então, e a velha história se repete. 

Ed Helms interpreta Rusty Griswold, o garoto dos filmes originais da série "Férias Frustradas". Ele cresceu, agora tem uma família, e vai repetir a mesma saga de seu bravo pai caindo nas estradas da América com sua mulher (Christina Applegate) e seus filhos (Skyler Grisondo e Steele Stebbins) rumo à lendária WalleyWorld, uma espécie de Cidade da Criança deles lá. 

Juntos, vão enfrentar uma sequência interminável e muito engraçada de roubadas, que eu não vou contar para não bancar o desmancha-prazeres.


Óbvio que a refilmagem não é tão boa quanto o original. 

Harold Ramis, o diretor do filme original, morreu ano passado. O roteiro não conta dessa vez com o toque de gênio do craque John Hughes. Mas o time que assumiu a série sabia bem onde estava se metendo. E fez bem o que tinha que ser feito.

O filme funciona bem, graças em parte ao talento cômico impecável de Ed Helms e Christina Applegate, que seguram a onda de seus personagens tão bem quanto Chevy Chase e Beverly D'Angelo. 

Aliás, o filme conta com participações especiais dos dois, e também de Chris Hemsworth como o cunhado de Rusty.


No final das contas, quando todos -- produtores, público, crítica -- se contentariam com um pouco mais do mesmo de antes, "Férias Frustradas" acaba nos brindando com uma abordagem nova a uma velha história, trazendo um fôlego renovado que deve levar a novos episódios nos próximos anos, caso o filme emplaque nas bilheterias.

E deve emplacar sim. 

Aliás, merece emplacar. 

Até porque o que o mundo mais precisa agora é justamente do exemplo aventuresco e desbravador dos Griswolds, esses novos bravos pioneiros americanos.

FÉRIAS FRUSTRADAS
VACATION
(2015, 99 minutos)

Direção
John Francis Daley
Jonathan M Goldstein

Elenco
Ed Helms
Christina Applegate
Skyler Grisondo
Steele Stebbins
Leslie Mann
Chris Hemsworth
Chevy Chase
Beverly D'Angelo

em cartaz em Santos
nas Redes Roxy e Cinemark








"LOVE", DE GASPAR NOÉ, É PORNOGRAFIA RUIM E UMA TOLICE ARTÍSTICA INDESCULPÁVEL

por Chico Marques
 para BLACK AND WHITE IN COLOUR



Bons tempos em que as pessoas se escandalizavam com cenas de sexo repletas de densidade existencial em filmes de Louis Malle e Bernardo Bertolucci. 

Temas tabú abordados com criatividade e talento eram a especialidade deles dois.

Malle abordou o "incesto materno" com uma delicadeza ímpar em SOPRO NO CORAÇÃO (1972, com Lea Massari), enquanto Bertolucci optou por uma abordagem intensa e operística ao mesmo tema em LA LUNA (1979).

Malle mergulhou fundo no tema "pedofilia" e expôs com uma naturalidade desconcertante o universo de uma menina de 12 anos já bem sexualizada em PRETTY BABY (1978), enquanto Bertolucci nadou de braçada numa abordagem mais filosófica do assunto em BELEZA ROUBADA (1996).

Malle desafiou limites quando criou a contundente cena do estupro de "Lacombe Lucien" (1973), enquanto Bertolucci optou por trabalhar na linha tênue que separa os temas "estupro" e "sexo grupal" na cena de sexo a três não muito consensual que rola entre uma camponesa e a dupla de amigos Robert de Niro e Gerard Dépardieu em "Novecento" (1975).

E olha que nem fizemos menção aqui à cena desesperada de sexo anal entre Marlon Brando e Maria Schneider em "O Último Tango em Paris" (1973), de Bernardo Bertolucci, e às cenas de sexo repletas de tragicidade entre Juliette Binoche e seu sogro Jeremy Irons em "Perdas e Danos" (1992), de Louis Malle.



Por essas e outras, chega a ser patético ver o público do Festival de Cinema de Cannes, outrora tão descolado e cosmopolita, se escandalizando e aplaudindo bobagens como "Azul É A Cor Mais Quente" -- exibido em Cannes dois anos atrás com muito estardalhaço, mas grande apelo de bilheteria -- e agora esse ridículo "Love" (2015), rodado em 3D pelo altamente duvidoso diretor argentino Gaspar Noé -- o mesmo responsável por filmes ultraviolentos como "Irreversível" (2002), "Viagem Alucinante" (2009) e "Sozinho Contra Todos" (1998).

O pinto mole do protagonista alter-ego do diretor, que passeia pela tela em close-ups em 3D boa parte do tempo, já dá o tom do embuste que o espectador vai enfrentar nessa trama cansativa em que um cidadão chamado Murphy recebe o telefonema da mãe de sua ex-namorada, Elektra, que não vê há alguns anos, para informá-lo do desaparecimento dela -- e isso provoca nele um longo flashback com cenas dos quase dois anos em que estiveram juntos, relembrando promessas não-cumpridas, jogos sexuais mal administrados e excessos e crueldades de todos os tipos cometidos por ambas as partes.

 Detalhe: essas lembranças se contrapoem à frustração que Murphy sente em relação à sua vida atual, ao lado de sua mulher atual e de seu filho, e à falta de perspectivas que tomou conta de sua vida.

Ou seja, "LOve" pretende ser uma espécie de pornô existencialista.

Durma-se com um barulho desses...



"Love" não tem qualquer pudor em cena, e, acredite, isso está longe de ser um elogio. 

O uso indiscriminado do sexo explícito visa aparentemente dissecar a intimidade do casal, mas perde o impacto rapidamente, pois as cenas de sexo em 3D ficam enfadonhas e redundantes rapidamente, e se revelam meros instrumentos para o diretor testar os limites de seu novo brinquedinho high tech.

 Trocando em miúdos: tudo muito cansativo.

Outro problema do filme é seu elenco. Como os personagens precisavam realmente ter relações sexuais diante da câmera, nenhum ator consolidado ou promissor que tenha algum apego pelo futuro de sua carreira se habilitou a participar de uma produção com esse biotipo. Não é à toa que as duas atrizes principais, Aomi Muyock (Electra) e Klara Kristin (Omi), são atrizes estreantes, e o ator principal, Karl Glusman, tenha apenas papéis irrelevantes em seu currículo. Por melhor que cumpram seus papéis nas cenas de sexo, o trio de fornicadores incansáveis deixa bastante a desejar sempre que é exigido deles um mínimo de dramaticidade

Glusman é o caso mais gritante. Para um protagonista, ele é inexpressivo demais. Não dá para o gasto nem mesmo naquelas produções xxx low-budget rodadas em Amsterdam e distribuídas para o mundo inteiro pela Private Video. 

Ou seja: o miscast é total e generalizado.



Para piorar mais ainda, "Love" demonstra uma inconsistência temática que é -- agora sim! -- verdadeiramente escandalosa, na medida em que o filme cai feito um patinho no velho clichê pornô de contar "a tragetória sexual de um casal desde a exploração inicial do prazer, rumo a perversões e violências de todos os tipos". 

Se 40 anos atrás, nos tempos áureos da Boca do Lixo Paulistana, dessem câmeras 3D aos diretores Jean Garret ou Alfredo Sternheim, eles teriam realizado filmes igualmente inócuos e ruins. 

A diferença é que eles, ao contrário de "Love", jamais teriam chegado ao Festival de Cannes.

 Daí, se aceitarem um conselho de amigo, evitem "Love". Não percam tempo e dinheiro com ele. E caso algum de vocês tenha interesse em ver outro filme com uma temática semelhante, só que realizado com gabarito artístico infinitamente superior, recomendo assistir "Nove Canções", trabalho recente de Michael Winterbottom, com Anne Hathaway. É um belo filme, mil vezes mais ousado em termos temáticos, interpretado por atores de gabarito e dirigido por um artista de verdade -- não por um sociopata metido a existencialista como Gaspar Noé.



ALGUNS COMENTÁRIOS DA IMPRENSA INTERNACIONAL SOBRE "LOVE"

"Não é um filme pornô, os diálogos não chegam a este nível" (Jason Solomons, BBC News)

"Um filme de sábado à noite no Canal+, com um argumento amoroso sofrível" (François Aubel, Le Monde)

"Noé quer mostrar bunda, mas não consegue ser excitante. O problema todo é que ele quer pontuar 'Love' com seu narcisismo e seu desejo de perturbar o mundo" (Clement Ghys, Libération)

"Absurdamente mal interpretado" (The Guardian)

"Sexo ruim que você não vê o fim" (El País)



LOVE
(2015, 134 minutos)

Direção e Roteiro
Gaspar Noé

Elenco
Karl Glusman
Klara Kristin
Aomi Muyock

em cartaz no Roxy Iporanga 4
 (Shopping Pátio Iporanga)
e no Cinespaço Miramar Shopping
(Shopping Miramar)




sexta-feira, setembro 04, 2015

MERYL STREEP E JONATHAN DEMME BRILHAM NUM DELICIOSO DRAMA FAMILIAR ROQUEIRO

por Chico Marques
para BLACK AND WHITE IN COLOUR


Para atrizes como Meryl Streep, não existe papel ruim. 

O que existe é roteiro ruim ou diretor inexpressivo. 

Por conta disso, ela -- que é conhecida por não medir esforços para compor seus personagens -- nunca embarca num projeto sem antes saber qum vai estar à frente dele. 

Verdade seja dita: Meryl é uma das pouquíssimas atrizes de sua geração capaz de protagonizar filmes atualmente, pois possui carisma e apelo de público fortes o suficiente para atrair multidões para as salas de cinema com a simples menção de seu nome no elenco. Ninguém tem peito de chegar para ela e dizer: "Desculpe, Meryl, mas esse papel não serve para você, você é uma mulher de 66 anos de idade". Se ela acha que pode fazer, vai e faz. Tem bom senso para saber onde se mete.

Todo esse cuidado é para não cair em roubadas, e também para manter sua carreira fora da mira de fogo dos detratores profissionais da "imprensa especializada" -- sim, eles mesmos, aquelas criaturinhas rastejantes que vivem à margem da Industria Cinematográfica e que todo ano elegem um ator ou uma atriz que tenha protagonizado algum eventual fiasco de bilheteria como "bola da vez", para logo a seguir promover um verdadeiro trabalho de demolição em sua carreira.

Como Meryl sempre soube impor respeito de uma maneira bem peculiar, nunca foi alvo de campanhas difamatórias desse tipo. Daí, segue tranquilamente com sua carreira se dedicando apenas ao cinema e ao teatro, enquanto praticamente todas as suas colegas de geração mudaram de mala e cuia para as séries de TV.


Meryl Streep e o diretor Jonathan Demme se conhecem há muitos anos. Um sempre foi admirador incondicional do trabalho do outro. Mas por impossibilidade nas agendas ou por restrições de orçamento em suas produções, Jonathan nunca pode contar com a presença de Meryl encabeçando o elenco de seus filmes. Até agora.

"Ricki And The Flash", o novíssimo filme de Jonathan Demme, traz Meryl Streep no papel de Ricki, uma mãe de classe média que, para se dedicar ao seu sonho de ser cantora de rock, deixou seus filhos com seu ex-marido Pete, interpretado por Kevin Kline, para se dedicar integralmente a sua carreira como vocalista do grupo The Flash. 

Os anos passam e, de repente, ela é obrigada a voltar para casa e retomar seu papel de mãe quando fica sabendo que sua filha mais nova, Julie (Mamie Gummer), foi vítima de um colapso nervoso durante o processo de separação de seu marido, e está precisando desesperadamente de apoio familiar.

Para Ricki, roqueira habituada com a vida na estrada, essa volta para casa e para suas antigas rotinas é desesperadora. Mas não há outra saída, o jeito é se readaptar à vida em família da maneira que for possível. E eis que nos vemos mais uma vez diante de uma deliciosa família disfuncional americana moderna, tão surpreendente, cativante e turbulenta quanto a de "O Casamento de Rachel", penúltimo filme de Demme, de 1998, escrito pela talentosa roterista Jenny Lumet (filha do saudoso diretor Sidney Lumet).


Quem assina o roteiro de "Ricki And The Flash" é a premiada Diablo Cody -- de "Juno" (2008) e "Paradise" (2013). Ela deita e rola criando personagens que escapam do óbvio o tempo todo, e que não cansam de disparar diálogos ácidos e inteligentes a torto e a direito. 

Tanto Diablo Cody quanto Jonathan Demme parecem partilhar do mesmo entusiasmo por esses novos formatos familiares americanos que possuem uma dinâmica de relações muito peculiar e nada tradicionalista, e que é sob medida para investidas dramatúrgicas novas e diferenciadas. 

Aqui, mais uma vez, Meryl tem o imenso prazer de contracenar com sua filha, a talentosa e promissora Mamie Gummer, que, aos 32 anos de idade, já possui bagagem de carreira suficiente para desenvolver uma carreira longe da sombra da mãe. Sua performance como Julie é, no mínimo, brilhante. O contraponto entre a despachada mãe hard-rocker e a filha absolutamente fragilizada é algo jamais visto antes no imaginário cinematográfico de Hollywood. E o resultado é simplesmente notável.



 Aos 71 anos de idade, Jonathan Demme continua um renovador do cinema americano. 

Sua zona de conforto reside na instabilidade, no incerto, e ele não cansa de seguir em frente se reinventando de tempos em tempos. 

Tem sido uma longa estrada desde os road-movies que Demme rodava dos anos 70, como "Melvin & Howard", até as comédias selvagens "Totalmente Selvagem" e "Casada Com A Máfia", para enfim chegar ao drama sempre apostando em abordagens inusitadas, como em "O Silêncio dos Inocentes", "Philadelphia" e "O Casamento de Rachel".

Quando aos atores, Kevin Kline está magnífico como Pete, o ex-marido amargurado e rabugento. Rick Springfield, ex-teen idol, hoje sessentão, está surpreendente como o namorado de Ricki, guitarrista e parceiro em sua banda The Flash. E Meryl está um arraso como a mãe roqueira com roupas de couro e uma atitude cotidiana que lembra qualquer coisa, menos uma "all-american mom".



Enfim, temos aqui um drama familiar rock and roll, recheado com vários números musicais muito bons, onde Meryl, mais uma vez, mostra que leva jeito para a música também. Além de cantar muito bem, consta que, para dar maior credibilidade ao seu personagem, ela dispensou dublês de mãos e passou algumas semanas tendo aulas para aprender a dedilhar guitarras e assim compor melhor sua adorável personagem Ricki. 

Eu não duvido. Meryl nunca mediu esforços para criar personagens absolutamente verossímeis. Não ia ser agora, quando ela finalmente conseguiu acertar sua agenda com a de Jonathan Demme, que isso seria diferente. 

Um filme delicioso. Para não perder de forma alguma.



RICKI E THE FLASH
RICKI & THE FLASH
(2015 - 102 minutos)

Direção
Jonathan Demme

Roteiro
Diablo Cody

Elenco
Meryl Streep
Kevin Kline
Rick Springfield
Mamie Gummer
Sebastian Stan
Rick Rosas
Bernie Worrell



em cartaz no Roxy Iporanga 4
e no Cinemark Praiamar Shopping






GUY RITCHIE ATINGE EM "O AGENTE DA UNCLE" UM TRIUNFO ARTÍSTICO SEM PRECEDENTES

por Chico Marques 
para BLACK AND WHITE IN COLOUR 


Vladimir Putin pode estar sendo uma desgraça para o Mundo Livre, mas ao menos para uma coisa seu reinado de terror serve bem: consolidar a volta à moda da boa e velha Guerra Fria dos Anos 60.

Se não fosse por Putin, James Bond dificilmente teria sobrevivido à falência da MGM, e jamais teríamos tido Sam Mendes tomando em mãos a direção da série no fantástico "Skyfall" e no aguardadíssimo "Spectre", que estréia em Novembro nos cinemas.

Se não fosse por Putin, "Missão Impossível" provavelmente teria encerrado sua carreira como uma trilogia nove anos atrás, e agora não estaria lotando salas de cinema com seu quinto filme, onde o insosso Tom Cruise se eterniza no papel do agente Ethan Hunt.

E, se não fosse por Putin, jamais alguém se empenharia em resgatar essa grande série de espionagem da TV americana produzida na década de 60, onde os agentes secretos Napoleon Solo (da CIA) e Ilya Kuryakin (da KGB) lutavam contra a BRASH, uma Organização Internacional interessada em derrubar tanto os Estados Unidos quanto a então União Soviética, para estabelecer o caos na frágil Paz Mundial.



Napoleon Solo (na série, interpretado por Robert Vaughn) era galante, mulherengo e refinado, dono de um senso de humor extremamente mordaz, e que fazia uso de violência apenas quando estritamente necessário. Já o charme de Ilya Kuryakin (na série, interpretado por David McCallum) estava em seu jeitão circunspecto, que às vezes surpreendia com atitudes impulsivas, revelando-se mais violento e ameaçador do que Solo.

Pois bem: Guy Ritchie se encarregou de trazer "O Agente da UNCLE" para o cinema, e, ao invés de transferir a trama para o Mapa Geopolítico Atual -- como fizeram em "Missão Impossível" --, optou por manter a ação em 1963, no auge da Guerra Fria. E, como era de se esperar, incorporou ao roteiro do filme sua estética "graphic-novel", suas idiossincrasias estéticas de estimação e toda aquela movimentação truculenta que caracterizou seus primeiros e mais cultuados filmes.



A trama de "O Agente da U.N.C.L.E." é a seguinte: Napoleon Solo (Henry Cavill, o atual Superman) é um agente da CIA craque em arrombamentos que tem um passado como ladrão de jóias, e Ilya Kuryalin (Armie Hammer) um agente da KGB extremamente ortodoxo e pouco maleável. Os dois se trombam em Berlin Oriental, quando Solo é incumbido de levar uma mecânica chamada Gaby Teller (Alicia Vikander) para Berlim Ocidental, na esperança que ela revele informações sobre seu pai, Udo Teller (Christian Berkel), um cientista que participou da criação das bombas atômicas americanas na Segunda Guerra Mundial, e que desapareceu misteriosamente. 

Mas Gaby não tem informação alguma. Quem certamente tem informações é seu tio Rudi (Sylvester Groth), que, por sua vez, trabalha com Alexander (Luca Calvani) e Victoria Vinciguerra (Elizabeth Debicki), casal que faz parte de uma organização criminosa internacional ligada a antigos nazistas que pretendem ter acesso à tecnologia nuclear. 

Na fuga para Berlin Ocidental, Napoleon Solo e Gaby Teller são perseguidos incansavelmente por Ilya Kuryakin em cenas de ação espetacular, só que sem sucesso. E então, quando Kuryakin tem que se relatar a seu superior imediato Sanders (Jared Harris), não só não é repreendido como ainda recebe uma nova missão onde terá que trabalhar justamente ao lado de Solo e Gaby. É quando os dois ficam sabendo que CIA e KGB se uniram para combater um inimigo comum.



Tudo isso acontece nos primeiros 15 minutos do filme. O que surge na tela nos 90 minutos seguintes do filme é absolutamente eletrizante. Desnecessário dizer que a relação entre Solo e Kuryalin não vai ser nada fácil, tomando rumos surpreendentes enquanto eles pulam de país em país. Claro que não sem antes derramar charme e elegância por onde passam. 

Como estamos num filme de Guy Ritchie, violência e bom humor sempre andam juntos, combinando de maneira inusitada e divertida. Impossível não rachar de rir com o deboche de Solo com a falta de conhecimento de Kuryakin sobre moda, enquanto os dois esperam por Gaby escolher roupas numa loja. Só mesmo num filme de Guy Ritchie dois agentes mortais como eles trocam impressões sobre... moda.

Quanto ao elenco, as escolhas não poderiam ter sido melhores. Depois de terem cogitado contratar George Clooney e Brad Pitt para os papéis principais, optaram por atores mais jovens e bem menos conhecidos. Deu certo. Tanto Henry Cavill quanto Armie Hammer estão muito bem como como Napoleon Solo e Ilya Kuryakin. Os dois foram orientados por Guy Ritchie para não se espelharem demais em Robert Vaughn e David McCallum, para assim poderem montar seus personagens livremente, tornando-os assim mais frios e perigosos. 

Alicia Vikander e Elizabeth Debicki fazem de Gaby e Victoria "femme fatales" típicas dos filmes de Guy Richie. Os figurinos das duas parecem ter fugido de filmes clássicos de espionagem dos Anos 60. A indiferença de Gaby diante de toda aquela intriga internacional complicadíssima é muito engraçada. Já a sensualidade mortal de Victoria às vezes assusta, de tão contundente. 

E tem ainda Hugh Grant como Waverly, um agente secreto britânico que é uma espécie de emissário tanto da CIA quanto da KGB, e que aparece muito pouco no filme. Mas sempre que ele entra em cena, provoca uma reviravolta na trama.



Quem era fã da série original dos Anos 60 com certeza vai gostar do filme, pois ao mesmo tempo em que o filme tenta não ser reverente à série clássica, também não é desrespeitoso com ela -- ao contrário do que acontece frequentemente com "Missão Impossível" produzida por Tom Cruise.

De resto, gostar ou não de "O Agente da U.N.C.L.E." se resume basicamente em gostar ou não dos filmes de Guy Ritchie. Tem quem goste, e tem quem odeie. Eu pessoalmente, acho Guy Ritchie brilhante. E não me parece exagero algum afirmar que talvez seja o seu melhor trabalho até agora. Estamos diante de um triunfo artístico de proporções impressionantes. 

E, cá entre nós, de todas as trilhas sonoras excêntricas que Ritchie já escolheu para seus filmes, a de "O Agente da U.N.C.L.E." é, sem dúvida, a mais pitoresca de todas.

Filmaço. Divirtam-se.


   
O AGENTE DA U.N.C.L.E.
THE MAN FROM U.N.C.L.E.
(2015 - 116 minutos)

Direção
Guy Ritchie

Roteiro
Guy Ritchie
Lionel Wigram

Elenco
Alicia Vikander
Armie Hammer
Ben Wright
Christian Berkel
Christopher Sciueref
Claudia Newman
Daniel Westwood
David Beckham
David Menkin
Elizabeth Debicki
Francesco De Vito
Gabriel Farnese
Graham Curry
Guy Potter
Henry Cavill
Hugh Grant
Jared Harris
Jefferson King
Joana Metrass
Jonathan Nadav
Jorge Leon Martinez
Julian Michael Deuster
Luca Calvani
Luca Della Valle
Misha Kuznetsov
Nicon Caraman
Philip Howard
Simona Caparrini
Susan Gillias
Vivien Bridson


em cartaz no Roxy 5, 
no Roxy Iporanga 4, 
no Roxy Brisamar Shopping,
no Roxy Parque Anilinas,
no Cinemark Praiamar Shopping 
e no Cinespaço Shopping Miramar











domingo, agosto 30, 2015

TED, O URSINHO ESCROTINHO, ESTÁ DE VOLTA.

por Chico Marques
para Black & White In Colour


Até 2012, Seth MacFarlane era visto pela crítica e pelo público como uma figura genial da TV americana, responsável pelas séries adultas de animação "American dad" e "Family Guy", dono de um senso de humor politicamente incorreto ao extremo que alterna comédia de altíssimo nível com piadas de péssimo gosto, absolutamente escrotas, sem fazer a menor cerimônia.

Daí veio "Ted", sua estréia no cinema, sobre um ursinho de pelúcia (dublado por Seth McFarlane) que ganha vida e se transforma no melhor amigo de seu dono John (Mark Wahberg), desde a infância até a vida adulta. Juntos, os dois fumam maconha, bebem muito, assistem filmes pornô juntos, enchem a casa de putas com frequência, e se recusam terminantemente a amadurecer e se comportar como adultos comuns.

"Ted" foi um sucesso tão grande que uma sequência era altamente provável. Mas depois do fiasco comercial de seu segundo filme, o engraçadíssimo e injustiçado "A Million Ways To Die In The West", ele entrou na mira da Imprensa Futriqueira de Hollywood. 

A partir daí, a sequência de "Ted" mudou seu status de provável para inevitável. E foi produzida a toque de caixa, o que para McFarland nunca foi um problema, habituado que está a entregar roteiros de episódios de TV sempre na correria.


Pois "Ted 2" está chegando ao cinema nesta semana, e é surpreendentemente bom. 

Parte de uma premissa ainda mais absurda que a do primeiro filme. Agora Ted se casa com sua namorada, a ex-prostituta e ex-junkie Tami-Lynn (Jessica Barth). Então, surgem os primeiros problemas na relação conjugal entre os dois, decorrentes em parte do fato de Ted não possuir um órgão sexual e, consequentente, não poder ter um filho com ela.  

A partir daí, Ted e seu dono saem desembestados por Boston em busca de um doador de esperma para que Tami-Lynne possa engravidar. A cena em que eles invadem a casa do jogador Tom Brady para masturbá-lo enquanto dorme e roubar seu esperma é de rachar de rir. 

Mas paralelo a isso, o Estado de Massachussets decide invalidar o casamento de Ted com Tami-Lynn sob a alegação de que ele não é um ser vivo, e sim um objeto manufaturado. 

Mas não pense que, a partir daí, o filme vá ganhar tons dramáticos. Pelo contrário. Mas não vou entrar em detalhes para não bancar o desmancha-prazeres.


 Estranhamente, vários setores da crítica torceram o nariz para "Ted 2", fazendo uso de alegações no mínimo esdrúxulas. 

Teve gente que reclamou que o filme é longo demais, e que as piadas vem uma atrás da outra com tamanha rapidez que nem dá tempo do espectador rir do que está vendo. Na verdade, não há nada de errado com o roteiro do filme. Essa prática é muito comum entre roteiristas de TV, que não podem se dar ao luxo de perder o telespectador e tratam de sufocá-lo com situações engraçadas contínuas. Ou seja: esses críticos é que não estão habituados a assistir comédias que excedam 90 minutos de duração. 

Teve também quem acusou "Ted 2" de abusar de piadas de mau gosto. Aí já é um pouco demais, não? Quem quiser piadas de bom gosto, que vá ver o novo filme de Woody Allen. As piadas de Seth McFarland são, em sua essência, grossas e de mal gosto. Ele segue uma grande tradição do humor americano, e é um herdeiro legítimo de Mel Brooks, que também nunca primou pela sutileza em seu humor. Essa reclamação é tão ridícula quanto a do delegado comunista Protógenes Queiroz, que tentou tirar o primeiro filme da série de circulação dos cinemas porque não queria que seu filho pequeno visse aquelas cenas (engraçadíssimas) do ursinho fumando maconha.


"Ted 2" traz Amanda Seyfried como uma advogada jovem e maconheira que mexe com o coração do personagem de Mark Wahberg, que está recém-divorciado e carente. Conta também com participações especiais de Morgan Freeman e Liam Neeson, ambos amigos do diretor -- além, é claro, do grande canastrão Sam D. Jones, o Flash Gordon dos Anos 80, que ministra o casamento de Ted e Tami-Lynn na Catedral de Boston. 

"Ted 2" já é um sucesso mundial. Tudo indica que daqui a dois ou três anos teremos um terceiro filme da série aportando nos cinemas. Se isso não servir como recomendação para que você perca duas horas de sua vida assitindo "Ted 2", podemos afirmar que de todas as sequências de comédias de sucesso que chegaram aos nossos cinemas do ano passado para cá -- vide "Débi e Lóide 2" e "Quero Matar Meu Chefe 2" --, nosso adorável ursinho escrotinho ganha de lavada.


TED 2
(2015 - 115 minutos)

Direção e Roteiro
Seth McFarlane

Cinematografia
Michael Barrett

Música
Walter Murphy

Elenco
Seth McFarlane (voz)
Mark Wahlberg
Amanda Seyfried
Liam Neeson
Morgan Freeman
Sam D Jones



em cartaz no Cine Roxy 5 
e no Cinemark Praiamar Shopping





ANNA MUYLAERT FLERTA FORTE COM O BIG BUSINESS EM "QUE HORAS ELA VOLTA?"

por Chico Marques
para Black & White In Colour


Anna Muylaert é, sem sombra de dúvidas, a diretora de cinema mais talentosa de sua geração aqui no Brasil.

Mostrou a que veio já em sua estréia em 2003 com "Durval Discos", uma "dark comedy" absolutamente inusitada sobre o dono de um Sebo de Discos em Pinheiros que está em vias de fechar suas portas e a fauna estranha que entra e sai da loja todos os dias.

Em 2009, lançou seu segundo filme, o originalíssimo "É Proibido Fumar", com Glória Pires e Paulo Miklos, outra "dark comedy" tipicamente paulistana onde solidão e loucura convergem e geram situações surreais que, sabe-se lá como, acabam inseridas no cotidiano de seus protagonistas com uma leveza desconcertante.     

Considerando esses dois êxitos artísticos, a expectativa pelo terceiro projeto de Anna Muylaert era grande a partir do momento em que ela anunciou em seus perfis nas Redes Sociais estar dando início a uma nova empreitada como diretora, produtora e roteirista. 

Mas, estranhamente, ao invés de seguir a linha autoral definida por seus dois primeiros filmes -- e certamente visando ter menos dificuldades na captação de recursos para este projeto --, Anna Muylaert optou por se adequar a certas "normas não escritas" praticadas pelo Ancine e submeteu ao órgão federal um drama social totalmente integrado aos padrões praticados por lá de alguns anos para cá.

O resultado disso chega agora às telas brasileiras, depois de fazer o circuito dos festivais internacionais nos últimos meses.


 "Que Horas Ela Volta?", o terceiro filme de Anna Muylaert, conta a história da pernambucana Val (Regina Casé), que se muda para São Paulo visando dar melhores condições de vida para sua filha, Jéssica, que permanece no interior de Pernambuco sendo criada por uma aparentada. 

Paradoxalmente, Val passa a trabalhar como babá de um menino chamado Fabinho na casa de uma família de classe média alta. 

Treze anos mais tarde, Fabinho (Michel Joelsas) vai prestar vestibular. Jéssica (Camila Márdila), por sua vez, pede ajuda aos patrões de sua mãe para ir à São Paulo prestar a mesma prova, e eles a recebem de braços abertos. 

Mas quando Jessica deixa de seguir certos protocolos, circulando livremente pela casa e não se comportando como "a filha da empregada", a situação se complica -- tanto para ela quanto para Val. 



O problema de "Que Horas Ela Volta?" não está no roteiro de Anna Muylaert, que é muito bem alinhavado e extremamente bem resolvido. 

Também não está na direção de Anna, que procura tirar o melhor proveito tanto dos atores -- todos muito bons, e em performances extremamente convincentes -- quanto dos recursos técnicos a que teve acesso nessa produção, já que dessa vez pôde dispor de um orçamento visivelmente menos apertado que os de seus dois filmes anteriores. 

Na verdade, o problema de "Que Horas Ela Volta?" é que o cinema de Anna Muylaert careteou e perdeu o viço, caindo no lugar comum dos dramas sociais neo-realistas. 

"Que Horas Ela Volta?" é um filme tão quadrado e tão voltado para o gosto popular médio quanto "Central do Brasil".

Com predicados como esses, não é de se espantar o sucesso de público do filme em festivais pelo mundo afora. 



Ao contrário de "Durval Discos" e "É Proibido Fumar", "Que Horas Ela Volta?" não pretende perturbar o público pagante com temáticas existenciais indigestas e saídas estéticas inusitadas. Dá-se por satisfeito cumprindo sua função social com competência dramatúrgica, e ponto.

É um filme que vai ter uma carreira brilhante nos cinemas brasileiros, sem a menor dúvida, graças ao suporte da Globo Filmes, e que pode eventualmente faturar um Golden Globe ou um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, caso venha a ser indicado pelo Itamaraty -- alguém duvida disso? -- para participar dessas disputas internacionais. 

Mas, convenhamos: daí a achar que a interpretação maneirista de Regina Casé como Val leva alguma chance no páreo do Oscar de Melhor Atriz, só porque ganhou um prêmio em Sundance, aí já é ufanismo demais, não é não?


QUE HORAS ELA VOLTA?
(2015 - 114 minutos)

Roteiro e Direção
Anna Muylaert

Música
André Abujamra

Elenco
Regina Casé
Camila Márdia
Michel Joelsas
Lourenço Mutareli
Karine Teles
Luís Miranda
Theo Werneck
Antonio Abujamra



em cartaz no Roxy Iporanga 4, 
Cinemark Praiamar Shopping 
e Cinespaço Miramar Shopping