segunda-feira, março 10, 2008

O Signo Da Cidade (de Carlos Alberto Riccelli, 2007)


Como diria o Tom Jobim, "O Signo da Cidade"é bom, mas é uma merda.

É bom por ser correto, bem produzido, bem realizado, com um belo trabalho de atores e um capricho na edição raro em um filme brasileiro.

E é uma merda por ser um xerox descarado (e apagado) de "Magnolia", do Paul Thomas Anderson.

Os diálogos que Bruna colocou nas bocas de seus personagens são absolutamente postiços. O roteiro erra ao colocar em cena personagens demais em apenas 95 minutos de projeção. Vários
deles poderiam ter sido sacrificados sem prejuízo algum ao filme. O roteiro erra também ao deixar os personagens de Juca de Oliveira e Eva Wilma tão desalinhavados do resto do contexto. Eles são o que o filme tem de melhor, e acabam brilhando individualmente, somando pouco ou quase nada ao conjunto. Falha típica de roteirista principiante.

Mas isso dá para perdoar.

A direção de Riccelli, no entanto, não merece perdão. É dura, sem graça, e incapaz de dar ao filme a cadência que o roteiro pede. Ele certamente pensou que seria fácil fazer um filme multiplot, repleto de personagens que não se conhecem, mas que se trombam aqui e acolá, como o Robert Altman fazia, e como o Paul Thomas Anderson faz. Não tinha noção do tamanho da encrenca, e nem de sua falta de estofo para capitanear um projeto ambicioso assim. Riccelli é muito ruim. Em vez de conduzir a trama com criatividade a partir do roteiro, preferiu o caminho óbvio, televisivo, de simplesmente ilustrar com imagens as metáforas que os personagens de Bruna verbalizam nos diálogos do roteiro. O que é redundante e profundamente irritante, além de ser um insulto à inteligência alheia. Cinema não é isso.

Mas o que o filme tem de pior é o excesso de auto-suficiência artística da família Lombardi-Riccelli. O roteiro e os diálogos são de Bruna. A trilha tonora e as canções são de Bruna, Ricelli e do filho do casal, A produção é de Bruna e Riccelli, que também dirige. E o papel principal é de Bruna. Esse acúmulo desnecessário de funções nas costas do casal não tem a ver com verba curta de produção, e muito menos com excesso de talento dos dois envolvidos, que, de tão empenhados nesse esforço de afirmação artística, chegam a deixar a platéia constrangida por não conseguir ver no filme nada além de um amontoado de cenas já vistas em outros filmes, e que são quase clichês. Eu pensei cá com meus botões: "Puxa, é tudo tão mediano, etc e tal, mas não dá para negar o quanto Riccelli e Bruna são esforçados...".

E, em última análise, é só isso que o filme acaba despertando no público: complacência.