sábado, dezembro 31, 2016

BLACK & WHITE IN COLOUR ESCOLHE OS 10 MELHORES FILMES DE 2016 (por Chico Marques)

1. A JUVENTUDE (Paolo Sorretino)
Depois de um filme repleto de superlativos como A Grande Beleza, ninguém imaginava que Paolo Sorrentino retornasse com um filme ainda mais contudente. E não é que ele fez justamente isso? A Juventude traz Michael Caine e Harvey Keitel como dois velhos amigos que enxergam a velhice por ângulos diferentes. Enquanto Caine faz um músico renomado que só quer curtir em paz seus últimos dias mergulhado no tédio -- a ponto de esnobar um convite da Rainha Elizabeth --, o segundo é cineasta e pretende realizar seu último filme, uma espécie de longa-testamento protagonizado pela atriz que lançou 50 anos atrás -- Jane Fonda, em uma aparição hipnotizante e inesquecível. Rachel Weisz, interpreta a atormentada filha do músico, e é seu personagem que ajuda a equilibrar essa história com doçura, conflito e afeto. O filme lança olhar irônico e ferino não só para a velhice ou a juventude, mas para a vida em si, incluindo aí a fogueira das vaidades do mundo do show business. É uma obra repleta de lirismo, com roteiro preciso e intenso, cercado de imagens deslumbrantes para onde quer que o espectador olhe, e com personagens desempenhados por atores próximos à perfeição. Paolo Sorrentino é, sem sombra de dúvida, o cineasta europeu mais talentoso de sua geração. E A Juventude é um filme fundamental para que as mulheres entendam melhor os homens. E também para que os homens se situem melhor no tempo e no espaço de suas existências.
2. ANOMALISA (Charlie Kaufman)
Assim como acontece em A JuventudeAnomalisa é um filme intensamente masculino. O atormentado Michael Stone (voz de David Thewis) é um palestrante motivacional que acaba de chegar à cidade de Connecticut. Ele segue do aeroporto direto para o hotel, onde entra em contato com um antigo caso para que possam se reencontrar. A iniciativa não dá certo, mas Michael logo se insinua para duas jovens que foram ao local justamente para ver a palestra que ele dará no dia seguinte. É quando ele conhece Lisa (voz de Jennifer Jason Leigh), por quem se apaixona. Trata-se uma história de amor irrealizado absolutamente melancólica que se desenvolve num tom agridoce rumo a um desfecho surreal. E de um filme de animação absolutamente único na história do cinema. Mesmo quem é fã de carteirinha do trabalho de Charlie Kaufman vai se surpreender com Anomalisa. Positivamente, com certeza. 
3. CAROL (Todd Haynes)
Chega a ser inusitado ver nos dias de hoje um filme como Carol, que mostra de forma delicada e paulatina, mas contundente, o romance entre duas mulheres de backgrounds sociais diferentes dentro das regras sociais dos Anos 50. A jovem Therese Belivet (Rooney Mara) tem um emprego entediante na seção de brinquedos de uma loja de departamentos. Um dia, ela conhece a elegante Carol Aird (Cate Blanchett), uma cliente que busca um presente de Natal para a sua filha. Carol, que está se divorciando de Harge (Kyle Chandler), também não está contente com a sua vida. As duas se aproximam cada vez mais e, quando Harge a impede de passar o Natal com a filha, Carol convida Therese a fazer uma viagem pelos Estados Unidos. O canadense Todd Haynes faz maravilhas com a história de Patricia Highsmith, e realiza mais um filme magnífico. E que elenco ele reuniu! Eque interpretações ele conseguiu desses atores! Um grande e belíssimo filme.

4. CAFÉ SOCIETY (Woody Allen)
Bobby (Jesse Eisenberg) abandona o trabalho de joalheiro com o pai no Brooklyn, NY, para sonhar com uma carreira em Hollywood, ao lado do tio materno, Phil (Steve Carrell), um agente de sucesso. Bobby é o próprio jovem ingênuo, cheio de sonhos, que o contato com a realidade vai esculpindo aos poucos e à sua revelia. Sua guia inicial nesse ambiente é Vonnie (Kristen Stewart), a secretária que o tio designa para aclimatá-lo na selva do cinema, ensinando-lhe os nomes das feras. Mas Bobby se apaixona por ela, sem imaginar que ela é amante do tio, casado há 25 anos. Tio e sobrinho vivem esse triângulo amoroso sem saber, até que surge um momento em que se exige uma decisão dela. Decisão feita, Bobby volta para Nova York, passa a trabalhar administrando os negócios do primo mafioso, e vira uma personalidade na cidade. Mas quando reecontra Vonnie, percebe que um buraco enorme ficou aberto em sua vida. Um filme admirável de Woody Allen: agridoce na medida certa, charmoso na medida certa, e absolutamente bem equilibrado. Tem um padrão de perfeição em Café Society. Veja e comprove.
5. AVE CÉSAR (Joel & Ethan Coen)
A história se passa no período de um dia, no auge do clima da paranoia anti-comunista dos anos 1950, quando a principal estrela dos estúdios Capitol Pictures, Baird Whitlock (George Clooney) – , é sequestrada bem no meio das filmagens da superprodução de época chamada... "Ave, César!". Caberá ao leão-de-chácara da companhia, Edward Mannix (Josh Brolin) trazer o artista são e salvo de volta ao set naquele mesmo dia. Uma premissa deliciosa que acaba rendendo mais um filme extremamente inusitado na carreira dos Irmãos Coen. Uma espécie de "madcap comedy" em tom menor, ou coisa que o valha. Não perca.
6. JULIETA (Pedro Almodóvar)
O longa acompanha uma mulher de meia idade prestes a recomeçar sua vida com um novo namorado em Portugal, até que encontra com uma antiga amiga de sua filha, que coloca a protagonista num espiral de lembrança. O espectador, logo após esse encontro casual, é transportado para esse turbilhão de emoções e memórias marcado por flashbacks, e Julieta é exatamente sobre essa presença do passado que faz seus personagens reféns do tempo e da vida. Essa obsessão é notada como os flashbacks vão se tornando cada vez mais constantes até dominarem completamente a linha narrativa do longa. O passado toma conta de Julieta e do longa também. e nos envolve em seu fluxo da memória e em sua loucura maternal. Um mergulho maduro e intenso no universo feminino, sem o humor habitual de Almodóvar, mas com uma grandeza de espírito contundente. Um ítem incomum na filmografia do grande diretor espanhol.
7. A GRANDE APOSTA (Adam McKay)
Michael Burry (Christian Bale) é o dono de uma empresa de médio porte, que decide investir muito dinheiro do fundo que coordena ao apostar que o sistema imobiliário nos Estados Unidos irá quebrar em breve. Tal decisão gera complicações junto aos investidores, já que nunca antes alguém havia apostado contra o sistema e levado vantagem. Ao saber destes investimentos, o corretor Jared Vennett (Ryan Gosling) percebe a oportunidade e passa a oferecê-la a seus clientes. Um deles é Mark Baum (Steve Carell), o dono de uma corretora que enfrenta problemas pessoais desde que seu irmão se suicidou. Paralelamente, dois iniciantes na Bolsa de Valores percebem que podem ganhar muito dinheiro ao apostar na crise imobiliária e, para tanto, pedem ajuda a um guru de Wall Street, Ben Rickert (Brad Pitt), que vive recluso. Com certeza, o melhor filme sobre a quebradeira da Wall St. realizado até agora. Quem não viu ainda, precisa ver.
8. SPOTLIGHT (Tom McCarthy)
Baseado em uma história real, o drama mostra um grupo de jornalistas do Boston Globe que reúne milhares de documentos capazes de provar diversos casos de abuso de crianças, causados por padres católicos. Durante anos, líderes religiosos ocultaram o caso transferindo os padres de região, ao invés de puni-los pelo caso. Não é exagero algum afirmar que este é o melhor filme sobre o meio jornalístico desde The Paper (1994), pequena obra-prima de Ron Howard com Michael Keaton.
9. MOGLI O MENINO LOBO (Jon Favreau)
Impressionante como Jon Favreau conseguiu acertar a mão nesta animação criada a partir do desenho clássico da Disney. A trama gira em torno do jovem Mogli (Neel Sethi), garoto de origem indiana que foi criado por lobos em plena selva, contando apenas com a companhia do urso Baloo (Bill Murray) e da pantera negra Bagheera (Ben Kingsley), sem nenhum contato com humanos. O menino é amado pelos animais, mas visto como uma ameaça pelo temido tigre Shere Khan (Idris Elba), que está decidido a matá-lo. Com a família de lobos ameaçada, Mogli decide se afastar. Baseado na obra de Rudyard Kipling. Um filme delicioso. Com certeza, o grande filme-pipoca familiar de 2016.
10. STAR TREK SEM FRONTEIRAS (Justin Lin)
O terceiro episódio com o elenco atual da série não deixa absolutamente nada a desejar em relação aos dois anteriores. Desta vez, Kirk (Chris Pine), Spock (Zachary Quinto) e a tripulação da Enterprise encontram-se no terceiro ano da missão de exploração do espaço prevista para durar cinco anos. Eles recebem um pedido de socorro que acaba os ligando ao maléfico vilão Krall (Idris Elba), um insurgente anti-Frota Estelar interessado em um objeto de posse do líder da nave. A Enterprise é atacada, e eles acabam em um planeta desconhecido, onde o grupo acaba sendo dividido em duplas. Com mais ação que os dois filmes anteriores e com passagens extremamente bem humoradas fazendo contraponto ao climão "space opera" original da série, Star Trek Sem Fronteiras é um acerto e tanto. Garantia de que este elenco ainda há de render mais dois ou três filmes para a série.






sexta-feira, setembro 11, 2015

A FAMÍLIA GRISWOLD DE VOLTA ÀS ESTRADAS AMERICANAS EM NOVAS FÉRIAS FRUSTRADAS

por Chico Marques
 para Black & White In Colour


Não dá para negar: "Férias Frustradas" é um clássico da comédia americana dos Anos 80. 

Produzido pela revista National Lampoon, que fazia muito sucesso na época, o filme se aproveitou parcialmente da idéia daquela comédia clássica do trailer de Vincent Minnelli (com Lucille Ball e Desi Arnaz no elenco), misturou com "Easy Rider" e acrescentou um toque do "Papa Léguas", o desenho da Looney Tunes, e o resultado foi sensacional.

Os Griswolds são uma família americana abestalhada comandada por Chevy Chase e Beverly D'Angelo, que, em seu primeiro filme, sai em férias pelas estradas americanas e pega a rota Chicago-Los Angeles para visitar o WalleyWorld, um Parque Temático que está caindo pelas tabelas.

"National lampoon's Vacation" vem arrancando gargalhadas de pelo menos 3 gerações e já rendeu outros dois filmes com o mesmo elenco, que foram sucessos estrondosos de bilheteria e continuam circulando pelos canais de "filmes clássicos" na TV por assinatura.


Pois bem: 30 anos se passaram desde então, e a velha história se repete. 

Ed Helms interpreta Rusty Griswold, o garoto dos filmes originais da série "Férias Frustradas". Ele cresceu, agora tem uma família, e vai repetir a mesma saga de seu bravo pai caindo nas estradas da América com sua mulher (Christina Applegate) e seus filhos (Skyler Grisondo e Steele Stebbins) rumo à lendária WalleyWorld, uma espécie de Cidade da Criança deles lá. 

Juntos, vão enfrentar uma sequência interminável e muito engraçada de roubadas, que eu não vou contar para não bancar o desmancha-prazeres.


Óbvio que a refilmagem não é tão boa quanto o original. 

Harold Ramis, o diretor do filme original, morreu ano passado. O roteiro não conta dessa vez com o toque de gênio do craque John Hughes. Mas o time que assumiu a série sabia bem onde estava se metendo. E fez bem o que tinha que ser feito.

O filme funciona bem, graças em parte ao talento cômico impecável de Ed Helms e Christina Applegate, que seguram a onda de seus personagens tão bem quanto Chevy Chase e Beverly D'Angelo. 

Aliás, o filme conta com participações especiais dos dois, e também de Chris Hemsworth como o cunhado de Rusty.


No final das contas, quando todos -- produtores, público, crítica -- se contentariam com um pouco mais do mesmo de antes, "Férias Frustradas" acaba nos brindando com uma abordagem nova a uma velha história, trazendo um fôlego renovado que deve levar a novos episódios nos próximos anos, caso o filme emplaque nas bilheterias.

E deve emplacar sim. 

Aliás, merece emplacar. 

Até porque o que o mundo mais precisa agora é justamente do exemplo aventuresco e desbravador dos Griswolds, esses novos bravos pioneiros americanos.

FÉRIAS FRUSTRADAS
VACATION
(2015, 99 minutos)

Direção
John Francis Daley
Jonathan M Goldstein

Elenco
Ed Helms
Christina Applegate
Skyler Grisondo
Steele Stebbins
Leslie Mann
Chris Hemsworth
Chevy Chase
Beverly D'Angelo

em cartaz em Santos
nas Redes Roxy e Cinemark








"LOVE", DE GASPAR NOÉ, É PORNOGRAFIA RUIM E UMA TOLICE ARTÍSTICA INDESCULPÁVEL

por Chico Marques
 para BLACK AND WHITE IN COLOUR



Bons tempos em que as pessoas se escandalizavam com cenas de sexo repletas de densidade existencial em filmes de Louis Malle e Bernardo Bertolucci. 

Temas tabú abordados com criatividade e talento eram a especialidade deles dois.

Malle abordou o "incesto materno" com uma delicadeza ímpar em SOPRO NO CORAÇÃO (1972, com Lea Massari), enquanto Bertolucci optou por uma abordagem intensa e operística ao mesmo tema em LA LUNA (1979).

Malle mergulhou fundo no tema "pedofilia" e expôs com uma naturalidade desconcertante o universo de uma menina de 12 anos já bem sexualizada em PRETTY BABY (1978), enquanto Bertolucci nadou de braçada numa abordagem mais filosófica do assunto em BELEZA ROUBADA (1996).

Malle desafiou limites quando criou a contundente cena do estupro de "Lacombe Lucien" (1973), enquanto Bertolucci optou por trabalhar na linha tênue que separa os temas "estupro" e "sexo grupal" na cena de sexo a três não muito consensual que rola entre uma camponesa e a dupla de amigos Robert de Niro e Gerard Dépardieu em "Novecento" (1975).

E olha que nem fizemos menção aqui à cena desesperada de sexo anal entre Marlon Brando e Maria Schneider em "O Último Tango em Paris" (1973), de Bernardo Bertolucci, e às cenas de sexo repletas de tragicidade entre Juliette Binoche e seu sogro Jeremy Irons em "Perdas e Danos" (1992), de Louis Malle.



Por essas e outras, chega a ser patético ver o público do Festival de Cinema de Cannes, outrora tão descolado e cosmopolita, se escandalizando e aplaudindo bobagens como "Azul É A Cor Mais Quente" -- exibido em Cannes dois anos atrás com muito estardalhaço, mas grande apelo de bilheteria -- e agora esse ridículo "Love" (2015), rodado em 3D pelo altamente duvidoso diretor argentino Gaspar Noé -- o mesmo responsável por filmes ultraviolentos como "Irreversível" (2002), "Viagem Alucinante" (2009) e "Sozinho Contra Todos" (1998).

O pinto mole do protagonista alter-ego do diretor, que passeia pela tela em close-ups em 3D boa parte do tempo, já dá o tom do embuste que o espectador vai enfrentar nessa trama cansativa em que um cidadão chamado Murphy recebe o telefonema da mãe de sua ex-namorada, Elektra, que não vê há alguns anos, para informá-lo do desaparecimento dela -- e isso provoca nele um longo flashback com cenas dos quase dois anos em que estiveram juntos, relembrando promessas não-cumpridas, jogos sexuais mal administrados e excessos e crueldades de todos os tipos cometidos por ambas as partes.

 Detalhe: essas lembranças se contrapoem à frustração que Murphy sente em relação à sua vida atual, ao lado de sua mulher atual e de seu filho, e à falta de perspectivas que tomou conta de sua vida.

Ou seja, "LOve" pretende ser uma espécie de pornô existencialista.

Durma-se com um barulho desses...



"Love" não tem qualquer pudor em cena, e, acredite, isso está longe de ser um elogio. 

O uso indiscriminado do sexo explícito visa aparentemente dissecar a intimidade do casal, mas perde o impacto rapidamente, pois as cenas de sexo em 3D ficam enfadonhas e redundantes rapidamente, e se revelam meros instrumentos para o diretor testar os limites de seu novo brinquedinho high tech.

 Trocando em miúdos: tudo muito cansativo.

Outro problema do filme é seu elenco. Como os personagens precisavam realmente ter relações sexuais diante da câmera, nenhum ator consolidado ou promissor que tenha algum apego pelo futuro de sua carreira se habilitou a participar de uma produção com esse biotipo. Não é à toa que as duas atrizes principais, Aomi Muyock (Electra) e Klara Kristin (Omi), são atrizes estreantes, e o ator principal, Karl Glusman, tenha apenas papéis irrelevantes em seu currículo. Por melhor que cumpram seus papéis nas cenas de sexo, o trio de fornicadores incansáveis deixa bastante a desejar sempre que é exigido deles um mínimo de dramaticidade

Glusman é o caso mais gritante. Para um protagonista, ele é inexpressivo demais. Não dá para o gasto nem mesmo naquelas produções xxx low-budget rodadas em Amsterdam e distribuídas para o mundo inteiro pela Private Video. 

Ou seja: o miscast é total e generalizado.



Para piorar mais ainda, "Love" demonstra uma inconsistência temática que é -- agora sim! -- verdadeiramente escandalosa, na medida em que o filme cai feito um patinho no velho clichê pornô de contar "a tragetória sexual de um casal desde a exploração inicial do prazer, rumo a perversões e violências de todos os tipos". 

Se 40 anos atrás, nos tempos áureos da Boca do Lixo Paulistana, dessem câmeras 3D aos diretores Jean Garret ou Alfredo Sternheim, eles teriam realizado filmes igualmente inócuos e ruins. 

A diferença é que eles, ao contrário de "Love", jamais teriam chegado ao Festival de Cannes.

 Daí, se aceitarem um conselho de amigo, evitem "Love". Não percam tempo e dinheiro com ele. E caso algum de vocês tenha interesse em ver outro filme com uma temática semelhante, só que realizado com gabarito artístico infinitamente superior, recomendo assistir "Nove Canções", trabalho recente de Michael Winterbottom, com Anne Hathaway. É um belo filme, mil vezes mais ousado em termos temáticos, interpretado por atores de gabarito e dirigido por um artista de verdade -- não por um sociopata metido a existencialista como Gaspar Noé.



ALGUNS COMENTÁRIOS DA IMPRENSA INTERNACIONAL SOBRE "LOVE"

"Não é um filme pornô, os diálogos não chegam a este nível" (Jason Solomons, BBC News)

"Um filme de sábado à noite no Canal+, com um argumento amoroso sofrível" (François Aubel, Le Monde)

"Noé quer mostrar bunda, mas não consegue ser excitante. O problema todo é que ele quer pontuar 'Love' com seu narcisismo e seu desejo de perturbar o mundo" (Clement Ghys, Libération)

"Absurdamente mal interpretado" (The Guardian)

"Sexo ruim que você não vê o fim" (El País)



LOVE
(2015, 134 minutos)

Direção e Roteiro
Gaspar Noé

Elenco
Karl Glusman
Klara Kristin
Aomi Muyock

em cartaz no Roxy Iporanga 4
 (Shopping Pátio Iporanga)
e no Cinespaço Miramar Shopping
(Shopping Miramar)




sexta-feira, setembro 04, 2015

MERYL STREEP E JONATHAN DEMME BRILHAM NUM DELICIOSO DRAMA FAMILIAR ROQUEIRO

por Chico Marques
para BLACK AND WHITE IN COLOUR


Para atrizes como Meryl Streep, não existe papel ruim. 

O que existe é roteiro ruim ou diretor inexpressivo. 

Por conta disso, ela -- que é conhecida por não medir esforços para compor seus personagens -- nunca embarca num projeto sem antes saber qum vai estar à frente dele. 

Verdade seja dita: Meryl é uma das pouquíssimas atrizes de sua geração capaz de protagonizar filmes atualmente, pois possui carisma e apelo de público fortes o suficiente para atrair multidões para as salas de cinema com a simples menção de seu nome no elenco. Ninguém tem peito de chegar para ela e dizer: "Desculpe, Meryl, mas esse papel não serve para você, você é uma mulher de 66 anos de idade". Se ela acha que pode fazer, vai e faz. Tem bom senso para saber onde se mete.

Todo esse cuidado é para não cair em roubadas, e também para manter sua carreira fora da mira de fogo dos detratores profissionais da "imprensa especializada" -- sim, eles mesmos, aquelas criaturinhas rastejantes que vivem à margem da Industria Cinematográfica e que todo ano elegem um ator ou uma atriz que tenha protagonizado algum eventual fiasco de bilheteria como "bola da vez", para logo a seguir promover um verdadeiro trabalho de demolição em sua carreira.

Como Meryl sempre soube impor respeito de uma maneira bem peculiar, nunca foi alvo de campanhas difamatórias desse tipo. Daí, segue tranquilamente com sua carreira se dedicando apenas ao cinema e ao teatro, enquanto praticamente todas as suas colegas de geração mudaram de mala e cuia para as séries de TV.


Meryl Streep e o diretor Jonathan Demme se conhecem há muitos anos. Um sempre foi admirador incondicional do trabalho do outro. Mas por impossibilidade nas agendas ou por restrições de orçamento em suas produções, Jonathan nunca pode contar com a presença de Meryl encabeçando o elenco de seus filmes. Até agora.

"Ricki And The Flash", o novíssimo filme de Jonathan Demme, traz Meryl Streep no papel de Ricki, uma mãe de classe média que, para se dedicar ao seu sonho de ser cantora de rock, deixou seus filhos com seu ex-marido Pete, interpretado por Kevin Kline, para se dedicar integralmente a sua carreira como vocalista do grupo The Flash. 

Os anos passam e, de repente, ela é obrigada a voltar para casa e retomar seu papel de mãe quando fica sabendo que sua filha mais nova, Julie (Mamie Gummer), foi vítima de um colapso nervoso durante o processo de separação de seu marido, e está precisando desesperadamente de apoio familiar.

Para Ricki, roqueira habituada com a vida na estrada, essa volta para casa e para suas antigas rotinas é desesperadora. Mas não há outra saída, o jeito é se readaptar à vida em família da maneira que for possível. E eis que nos vemos mais uma vez diante de uma deliciosa família disfuncional americana moderna, tão surpreendente, cativante e turbulenta quanto a de "O Casamento de Rachel", penúltimo filme de Demme, de 1998, escrito pela talentosa roterista Jenny Lumet (filha do saudoso diretor Sidney Lumet).


Quem assina o roteiro de "Ricki And The Flash" é a premiada Diablo Cody -- de "Juno" (2008) e "Paradise" (2013). Ela deita e rola criando personagens que escapam do óbvio o tempo todo, e que não cansam de disparar diálogos ácidos e inteligentes a torto e a direito. 

Tanto Diablo Cody quanto Jonathan Demme parecem partilhar do mesmo entusiasmo por esses novos formatos familiares americanos que possuem uma dinâmica de relações muito peculiar e nada tradicionalista, e que é sob medida para investidas dramatúrgicas novas e diferenciadas. 

Aqui, mais uma vez, Meryl tem o imenso prazer de contracenar com sua filha, a talentosa e promissora Mamie Gummer, que, aos 32 anos de idade, já possui bagagem de carreira suficiente para desenvolver uma carreira longe da sombra da mãe. Sua performance como Julie é, no mínimo, brilhante. O contraponto entre a despachada mãe hard-rocker e a filha absolutamente fragilizada é algo jamais visto antes no imaginário cinematográfico de Hollywood. E o resultado é simplesmente notável.



 Aos 71 anos de idade, Jonathan Demme continua um renovador do cinema americano. 

Sua zona de conforto reside na instabilidade, no incerto, e ele não cansa de seguir em frente se reinventando de tempos em tempos. 

Tem sido uma longa estrada desde os road-movies que Demme rodava dos anos 70, como "Melvin & Howard", até as comédias selvagens "Totalmente Selvagem" e "Casada Com A Máfia", para enfim chegar ao drama sempre apostando em abordagens inusitadas, como em "O Silêncio dos Inocentes", "Philadelphia" e "O Casamento de Rachel".

Quando aos atores, Kevin Kline está magnífico como Pete, o ex-marido amargurado e rabugento. Rick Springfield, ex-teen idol, hoje sessentão, está surpreendente como o namorado de Ricki, guitarrista e parceiro em sua banda The Flash. E Meryl está um arraso como a mãe roqueira com roupas de couro e uma atitude cotidiana que lembra qualquer coisa, menos uma "all-american mom".



Enfim, temos aqui um drama familiar rock and roll, recheado com vários números musicais muito bons, onde Meryl, mais uma vez, mostra que leva jeito para a música também. Além de cantar muito bem, consta que, para dar maior credibilidade ao seu personagem, ela dispensou dublês de mãos e passou algumas semanas tendo aulas para aprender a dedilhar guitarras e assim compor melhor sua adorável personagem Ricki. 

Eu não duvido. Meryl nunca mediu esforços para criar personagens absolutamente verossímeis. Não ia ser agora, quando ela finalmente conseguiu acertar sua agenda com a de Jonathan Demme, que isso seria diferente. 

Um filme delicioso. Para não perder de forma alguma.



RICKI E THE FLASH
RICKI & THE FLASH
(2015 - 102 minutos)

Direção
Jonathan Demme

Roteiro
Diablo Cody

Elenco
Meryl Streep
Kevin Kline
Rick Springfield
Mamie Gummer
Sebastian Stan
Rick Rosas
Bernie Worrell



em cartaz no Roxy Iporanga 4
e no Cinemark Praiamar Shopping






GUY RITCHIE ATINGE EM "O AGENTE DA UNCLE" UM TRIUNFO ARTÍSTICO SEM PRECEDENTES

por Chico Marques 
para BLACK AND WHITE IN COLOUR 


Vladimir Putin pode estar sendo uma desgraça para o Mundo Livre, mas ao menos para uma coisa seu reinado de terror serve bem: consolidar a volta à moda da boa e velha Guerra Fria dos Anos 60.

Se não fosse por Putin, James Bond dificilmente teria sobrevivido à falência da MGM, e jamais teríamos tido Sam Mendes tomando em mãos a direção da série no fantástico "Skyfall" e no aguardadíssimo "Spectre", que estréia em Novembro nos cinemas.

Se não fosse por Putin, "Missão Impossível" provavelmente teria encerrado sua carreira como uma trilogia nove anos atrás, e agora não estaria lotando salas de cinema com seu quinto filme, onde o insosso Tom Cruise se eterniza no papel do agente Ethan Hunt.

E, se não fosse por Putin, jamais alguém se empenharia em resgatar essa grande série de espionagem da TV americana produzida na década de 60, onde os agentes secretos Napoleon Solo (da CIA) e Ilya Kuryakin (da KGB) lutavam contra a BRASH, uma Organização Internacional interessada em derrubar tanto os Estados Unidos quanto a então União Soviética, para estabelecer o caos na frágil Paz Mundial.



Napoleon Solo (na série, interpretado por Robert Vaughn) era galante, mulherengo e refinado, dono de um senso de humor extremamente mordaz, e que fazia uso de violência apenas quando estritamente necessário. Já o charme de Ilya Kuryakin (na série, interpretado por David McCallum) estava em seu jeitão circunspecto, que às vezes surpreendia com atitudes impulsivas, revelando-se mais violento e ameaçador do que Solo.

Pois bem: Guy Ritchie se encarregou de trazer "O Agente da UNCLE" para o cinema, e, ao invés de transferir a trama para o Mapa Geopolítico Atual -- como fizeram em "Missão Impossível" --, optou por manter a ação em 1963, no auge da Guerra Fria. E, como era de se esperar, incorporou ao roteiro do filme sua estética "graphic-novel", suas idiossincrasias estéticas de estimação e toda aquela movimentação truculenta que caracterizou seus primeiros e mais cultuados filmes.



A trama de "O Agente da U.N.C.L.E." é a seguinte: Napoleon Solo (Henry Cavill, o atual Superman) é um agente da CIA craque em arrombamentos que tem um passado como ladrão de jóias, e Ilya Kuryalin (Armie Hammer) um agente da KGB extremamente ortodoxo e pouco maleável. Os dois se trombam em Berlin Oriental, quando Solo é incumbido de levar uma mecânica chamada Gaby Teller (Alicia Vikander) para Berlim Ocidental, na esperança que ela revele informações sobre seu pai, Udo Teller (Christian Berkel), um cientista que participou da criação das bombas atômicas americanas na Segunda Guerra Mundial, e que desapareceu misteriosamente. 

Mas Gaby não tem informação alguma. Quem certamente tem informações é seu tio Rudi (Sylvester Groth), que, por sua vez, trabalha com Alexander (Luca Calvani) e Victoria Vinciguerra (Elizabeth Debicki), casal que faz parte de uma organização criminosa internacional ligada a antigos nazistas que pretendem ter acesso à tecnologia nuclear. 

Na fuga para Berlin Ocidental, Napoleon Solo e Gaby Teller são perseguidos incansavelmente por Ilya Kuryakin em cenas de ação espetacular, só que sem sucesso. E então, quando Kuryakin tem que se relatar a seu superior imediato Sanders (Jared Harris), não só não é repreendido como ainda recebe uma nova missão onde terá que trabalhar justamente ao lado de Solo e Gaby. É quando os dois ficam sabendo que CIA e KGB se uniram para combater um inimigo comum.



Tudo isso acontece nos primeiros 15 minutos do filme. O que surge na tela nos 90 minutos seguintes do filme é absolutamente eletrizante. Desnecessário dizer que a relação entre Solo e Kuryalin não vai ser nada fácil, tomando rumos surpreendentes enquanto eles pulam de país em país. Claro que não sem antes derramar charme e elegância por onde passam. 

Como estamos num filme de Guy Ritchie, violência e bom humor sempre andam juntos, combinando de maneira inusitada e divertida. Impossível não rachar de rir com o deboche de Solo com a falta de conhecimento de Kuryakin sobre moda, enquanto os dois esperam por Gaby escolher roupas numa loja. Só mesmo num filme de Guy Ritchie dois agentes mortais como eles trocam impressões sobre... moda.

Quanto ao elenco, as escolhas não poderiam ter sido melhores. Depois de terem cogitado contratar George Clooney e Brad Pitt para os papéis principais, optaram por atores mais jovens e bem menos conhecidos. Deu certo. Tanto Henry Cavill quanto Armie Hammer estão muito bem como como Napoleon Solo e Ilya Kuryakin. Os dois foram orientados por Guy Ritchie para não se espelharem demais em Robert Vaughn e David McCallum, para assim poderem montar seus personagens livremente, tornando-os assim mais frios e perigosos. 

Alicia Vikander e Elizabeth Debicki fazem de Gaby e Victoria "femme fatales" típicas dos filmes de Guy Richie. Os figurinos das duas parecem ter fugido de filmes clássicos de espionagem dos Anos 60. A indiferença de Gaby diante de toda aquela intriga internacional complicadíssima é muito engraçada. Já a sensualidade mortal de Victoria às vezes assusta, de tão contundente. 

E tem ainda Hugh Grant como Waverly, um agente secreto britânico que é uma espécie de emissário tanto da CIA quanto da KGB, e que aparece muito pouco no filme. Mas sempre que ele entra em cena, provoca uma reviravolta na trama.



Quem era fã da série original dos Anos 60 com certeza vai gostar do filme, pois ao mesmo tempo em que o filme tenta não ser reverente à série clássica, também não é desrespeitoso com ela -- ao contrário do que acontece frequentemente com "Missão Impossível" produzida por Tom Cruise.

De resto, gostar ou não de "O Agente da U.N.C.L.E." se resume basicamente em gostar ou não dos filmes de Guy Ritchie. Tem quem goste, e tem quem odeie. Eu pessoalmente, acho Guy Ritchie brilhante. E não me parece exagero algum afirmar que talvez seja o seu melhor trabalho até agora. Estamos diante de um triunfo artístico de proporções impressionantes. 

E, cá entre nós, de todas as trilhas sonoras excêntricas que Ritchie já escolheu para seus filmes, a de "O Agente da U.N.C.L.E." é, sem dúvida, a mais pitoresca de todas.

Filmaço. Divirtam-se.


   
O AGENTE DA U.N.C.L.E.
THE MAN FROM U.N.C.L.E.
(2015 - 116 minutos)

Direção
Guy Ritchie

Roteiro
Guy Ritchie
Lionel Wigram

Elenco
Alicia Vikander
Armie Hammer
Ben Wright
Christian Berkel
Christopher Sciueref
Claudia Newman
Daniel Westwood
David Beckham
David Menkin
Elizabeth Debicki
Francesco De Vito
Gabriel Farnese
Graham Curry
Guy Potter
Henry Cavill
Hugh Grant
Jared Harris
Jefferson King
Joana Metrass
Jonathan Nadav
Jorge Leon Martinez
Julian Michael Deuster
Luca Calvani
Luca Della Valle
Misha Kuznetsov
Nicon Caraman
Philip Howard
Simona Caparrini
Susan Gillias
Vivien Bridson


em cartaz no Roxy 5, 
no Roxy Iporanga 4, 
no Roxy Brisamar Shopping,
no Roxy Parque Anilinas,
no Cinemark Praiamar Shopping 
e no Cinespaço Shopping Miramar