Anna Muylaert é, sem sombra de dúvidas, a diretora de cinema mais talentosa de sua geração aqui no Brasil.
Mostrou a que veio já em sua estréia em 2003 com "Durval Discos", uma "dark comedy" absolutamente inusitada sobre o dono de um Sebo de Discos em Pinheiros que está em vias de fechar suas portas e a fauna estranha que entra e sai da loja todos os dias.
Em 2009, lançou seu segundo filme, o originalíssimo "É Proibido Fumar", com Glória Pires e Paulo Miklos, outra "dark comedy" tipicamente paulistana onde solidão e loucura convergem e geram situações surreais que, sabe-se lá como, acabam inseridas no cotidiano de seus protagonistas com uma leveza desconcertante.
Considerando esses dois êxitos artísticos, a expectativa pelo terceiro projeto de Anna Muylaert era grande a partir do momento em que ela anunciou em seus perfis nas Redes Sociais estar dando início a uma nova empreitada como diretora, produtora e roteirista.
Mas, estranhamente, ao invés de seguir a linha autoral definida por seus dois primeiros filmes -- e certamente visando ter menos dificuldades na captação de recursos para este projeto --, Anna Muylaert optou por se adequar a certas "normas não escritas" praticadas pelo Ancine e submeteu ao órgão federal um drama social totalmente integrado aos padrões praticados por lá de alguns anos para cá.
O resultado disso chega agora às telas brasileiras, depois de fazer o circuito dos festivais internacionais nos últimos meses.
O resultado disso chega agora às telas brasileiras, depois de fazer o circuito dos festivais internacionais nos últimos meses.
"Que Horas Ela Volta?", o terceiro filme de Anna Muylaert, conta a história da pernambucana Val (Regina Casé), que se muda para São Paulo visando dar melhores condições de vida para sua filha, Jéssica, que permanece no interior de Pernambuco sendo criada por uma aparentada.
Paradoxalmente, Val passa a trabalhar como babá de um menino chamado Fabinho na casa de uma família de classe média alta.
Treze anos mais tarde, Fabinho (Michel Joelsas) vai prestar vestibular. Jéssica (Camila Márdila), por sua vez, pede ajuda aos patrões de sua mãe para ir à São Paulo prestar a mesma prova, e eles a recebem de braços abertos.
Mas quando Jessica deixa de seguir certos protocolos, circulando livremente pela casa e não se comportando como "a filha da empregada", a situação se complica -- tanto para ela quanto para Val.
O problema de "Que Horas Ela Volta?" não está no roteiro de Anna Muylaert, que é muito bem alinhavado e extremamente bem resolvido.
Também não está na direção de Anna, que procura tirar o melhor proveito tanto dos atores -- todos muito bons, e em performances extremamente convincentes -- quanto dos recursos técnicos a que teve acesso nessa produção, já que dessa vez pôde dispor de um orçamento visivelmente menos apertado que os de seus dois filmes anteriores.
Na verdade, o problema de "Que Horas Ela Volta?" é que o cinema de Anna Muylaert careteou e perdeu o viço, caindo no lugar comum dos dramas sociais neo-realistas.
"Que Horas Ela Volta?" é um filme tão quadrado e tão voltado para o gosto popular médio quanto "Central do Brasil".
Com predicados como esses, não é de se espantar o sucesso de público do filme em festivais pelo mundo afora.
"Que Horas Ela Volta?" é um filme tão quadrado e tão voltado para o gosto popular médio quanto "Central do Brasil".
Com predicados como esses, não é de se espantar o sucesso de público do filme em festivais pelo mundo afora.
Ao contrário de "Durval Discos" e "É Proibido Fumar", "Que Horas Ela Volta?" não pretende perturbar o público pagante com temáticas existenciais indigestas e saídas estéticas inusitadas. Dá-se por satisfeito cumprindo sua função social com competência dramatúrgica, e ponto.
É um filme que vai ter uma carreira brilhante nos cinemas brasileiros, sem a menor dúvida, graças ao suporte da Globo Filmes, e que pode eventualmente faturar um Golden Globe ou um Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, caso venha a ser indicado pelo Itamaraty -- alguém duvida disso? -- para participar dessas disputas internacionais.
Mas, convenhamos: daí a achar que a interpretação maneirista de Regina Casé como Val leva alguma chance no páreo do Oscar de Melhor Atriz, só porque ganhou um prêmio em Sundance, aí já é ufanismo demais, não é não?
QUE HORAS ELA VOLTA?
(2015 - 114 minutos)
Roteiro e Direção
Anna Muylaert
Música
André Abujamra
Elenco
Regina Casé
Camila Márdia
Michel Joelsas
Lourenço Mutareli
Karine Teles
Luís Miranda
Theo Werneck
Antonio Abujamra
em cartaz no Roxy Iporanga 4,
Cinemark Praiamar Shopping
e Cinespaço Miramar Shopping
(2015 - 114 minutos)
Roteiro e Direção
Anna Muylaert
Música
André Abujamra
Elenco
Regina Casé
Camila Márdia
Michel Joelsas
Lourenço Mutareli
Karine Teles
Luís Miranda
Theo Werneck
Antonio Abujamra
em cartaz no Roxy Iporanga 4,
Cinemark Praiamar Shopping
e Cinespaço Miramar Shopping
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