sexta-feira, abril 28, 2006

“Achados e Perdidos”: Noir de Copacabana (por Ricardo Calil para NoMinimo)


“Achados e Perdidos”, filme de José Joffily baseado no romance homônimo de Luiz Alfredo Garcia-Roza, insere-se em um conjunto de produções recentes que tenta dar ao policial urbano uma feição brasileira. Fazem parte desse grupo filmes como “Bellini e a Esfinge”, “Buffo & Spallanzani”, “O Dia da Caça” e “O Homem do Ano”.

Entre todos esses títulos, “Achados e Perdidos”, que estréia hoje, é de longe o produto mais bem-resolvido. Como já havia demonstrado em “A Maldição do Sanpaku” (1991), Joffily tem pleno conhecimento e domínio das convenções do noir – gênero que sempre representa enorme desafio aos cineastas, por causa das intrincadas tramas, dos personagens ambivalentes, da sordidez dos ambientes.

Aliás, o principal mérito do diretor no novo filme – compartilhado com o autor do livro – foi compreender a importância da ambientação no filme policial. Ele encontrou nas ruas e inferninhos de Copacabana um cenário de ambigüidade e degradação ideal para criar um noir carioca. A cidade pulsa em “Achados e Perdidos” como em nenhum desses outros filmes brasileiros citados.

No centro da trama, está o detetive aposentado Vieira (Antônio Fagundes), que se torna suspeito da morte de sua amante, a prostituta Magali (Zezé Polessa). Ao mesmo tempo, um ex-colega de polícia que virou deputado (Genézio de Barros) reaparece do nada e passa a chantageá-lo para cometer um crime – obrigando Vieira a reviver fatos do passado que gostaria de esquecer. O ex-detetive só encontra algum conforto nos braços da jovem prostituta Flor (Juliana Knust), sem saber que ela esconde alguns segredos importantes, como o fato de ter sido amante de Magali.

Em um ano até agora bastante fraco no cinema nacional, “Achados e Perdidos” destaca-se por algumas qualidades cinematográficas básicas: o roteiro de Paulo Halm é sempre conciso e eficiente, a fotografia de Nonato Estrela consegue encontrar um certo lirismo na decadência de Copa, a direção de Joffily nunca se perde em firulas de estilo, nem em subtramas desimportantes.

No caso de um filme noir, ainda mais fundamental é a sólida construção da femme fatale. Apesar de Knust se revelar uma intérprete ainda verde (bastante inferior, por exemplo, a Patrícia Pillar em “A Maldição do Sanpaku”), seu rosto tem o mistério que esse tipo de papel exige – ao mesmo tempo de menina e mulher, ingênua e esperta, cabocla e cosmopolita.

Mas, apesar de todas essas qualidades, “Achados e Perdidos” fica alguns passos aquém da grandeza, uma constante na obra de Joffily, o diretor de “Quem Matou Pixote?” (1996) e “Dois Perdidos Numa Noite Suja” (2002). O cineasta mostra grande competência para seguir as convenções do filme noir, mas também uma certa timidez para subvertê-las ou enriquecê-las. Ele parece se contentar com a tarefa de transpor esse gênero originalmente americano para as ruas do Rio de Janeiro, sem se mostrar interessado em dar alguma contribuição original a ele.

Na verdade, apenas um cineasta brasileiro se mostrou capaz de lançar um novo olhar ao filme policial nos últimos anos. Seu nome é Beto Brant, o diretor de “Os Matadores” e “O Invasor”. A julgar pelas incursões recentes pelo gênero, ele continuará sendo um caso de exceção.

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