sábado, março 11, 2006

Crash: Um filme desonesto. Com seus personagens e seus espectadores (anônimo, publicado no Blog do Bonequinho)


Vamos soletrar que é para ficar claro: e-n-g-a-n-a-ç-ã-o.

Isso é “Crash”.

Doeu, fãs? Tenham certeza, aqui doeu mais. A gente fica torcendo para o medíocre “Brokeback Mountain” perder o Oscar... e ele vai e perde para algo ainda pior!

“Brokeback Mountain” é um filme sem-noção, mas é honesto nos seus tropeços. “Crash” é desonesto, manipulador, filme cheio de truquezinhos baratos. Para além dos problemas estruturais que tenha — e tem; mais sobre isso já, já — seu problema principal é moral mesmo. É um filme cretino com seus personagens, monta armadilhas narrativas para impeli-los em determinado curso e justificar ações mais à frente (o melhor exemplo é o comerciante iraniano, pintado como um completo imbecil numa cena muito artificial só para levá-lo a cometer um ato tresloucado mais à frente).

Poderia ser abjeto e habilidoso, mas não é

Pode-se argumentar que Altman (coitado, deve ter ficado constrangidíssimo ao ver o filme), influência óbvia de Paul Haggis, também é cruel com os seus personagens. Só que não é dissimulado; ataca-os de peito aberto, não fingindo “entender-lhes os motivos”. Com que cara um sujeito vende o seu filme como uma discussão a respeito do racismo e o abre com um diálogo “espertinho” tão repulsivo quanto aquele dos dois rapazes negros em que um deles reclama de ser confundido com bandido devido à cor da pele e, no fecho da cena, puxa uma arma e rouba um carro? É o atestado de intenções do filme, e “Crash” já fica mal na fita a partir dali.

Pode ficar pior? Claro. O filme pode ser desonesto com o espectador. Por exemplo? Sinto, mas o melhor exemplo é no fim. Pule o parágrafo seguinte se ainda não tiver visto.

Por exemplo, pode se vender como filme “corajoso”, “cru”, “realista” e, no fim, ser covarde, elegendo para morrer um personagem totalmente secundário, e (por duas vezes!), fingindo matar personagens queridos, entre eles uma criança, por meio de tomadas-sustinho de que o mais oportunista filme de serial-killer não seria capaz.

É abjeto. Poderia ser abjeto e ultra-habilidoso, mas não. Engana um pouco, mas não sem cochilos de fluência (Sandra Bullock some do filme) ou histórias porcamente concluídas (o triângulo Matt Dillon-Thandie Newton-Terrence Howard).

Ou seja: l-i-x-o.

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